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Como as empresas podem se beneficiar do modelo Hollywood de negócio

Como as empresas podem se beneficiar do modelo Hollywood de negócio

Já pensou na sua empresa como um filme? A ideia é conhecida como Hollywood Business Model e é uma boa metáfora para os negócios. Um filme começa com uma ideia, uma mensagem, uma visão, um roteiro, personagens, mas é sempre um empreendimento que só se concretiza com muito trabalho de planejamento, execução, monitoramento e retroalimentação. O fato é que todos podemos aprender muito com o cinema e aplicar esses ensinamentos  em nossas empresas, quaisquer que sejam elas.

Esse modelo de negócio tem estruturas de governança como Conselho de Administração, Diretoria Executiva e comitês. Tem CEO, equipes técnicas, fornecedores, contratos e especialistas, com objetivos, competências, talentos e funções muito específicos. Ocorre em múltiplas locações e cada set de filmagem é uma empresa. A janela de tempo é restrita, os cronogramas são repletos de caminhos críticos e as pressões são intensas.

Tal como o cinema, que oferece desde produções atômicas como A boy and his atom (de apenas um minuto) a filmes experimentais enormes como Ambiancé (com inacreditáveis 720 horas), passando por vigorosos blockbusters, as empresas também podem criar projetos bem adaptados a produtos e serviços com características diferenciadas e adequadas a seu público.

O que um empreendimento tão complexo e sofisticado pode ensinar às nossas empresas?

É um modelo flexível, validado e que dá resultados. Nenhum filme sai do papel sem um bom planejamento, incluindo aspectos econômico-financeiros, estruturais, gerenciais, espaciais e temporais.  Ao contrário do que é apregoado por muitos, o planejamento pode ser bem detalhado e ao mesmo tempo pode permitir – ou melhor, exigir – correções de rota em tempo oportuno. Os problemas precisam ser resolvidos quando ocorrem e os esforços devem privilegiar o filme, que é o objetivo maior. Em muitas empresas, isso não é respeitado, o planejamento não acomoda mudanças e abre-se espaço para as equipes se concentrarem em agendas próprias, discussões de organograma e conflitos internos.

Adapta-se a vários setores econômicos e tipos de negócio. É possível aplicar o modelo em projetos e contextos organizacionais bem diferenciados, seja em termos de ramos de atividade, porte ou características de propriedade. O melhor exemplo, está claro, fica com as startups, que já nascem com o espírito da inovação, trabalho em equipe e foco em produtos e serviços específicos. Mas dá para pensar facilmente em empresas de mídia, publicidade, marketing digitaldesenvolvimento de aplicativos, escritórios de head hunters, empresas de treinamento. Enfim, onde for possível trabalhar no conceito de projeto, job, posição, é viável criar “filmes”, onde criadores e clientes podem desenvolver suas visões, expectativas e restrições.

Incentiva a inovação, a excelência e o aprimoramento. Nesse quesito, o modelo é campeão: analogamente ao cinema, as empresas precisam oferecer cada vez mais qualidade, encantamento e inovação aos clientes. Ninguém quer ver o mesmo filme várias e várias vezes. Não adianta continuar repetindo fórmulas de sucesso até o esgotamento, e o modelo pode ser uma ótima opção para inovar de forma controlada. É uma boa alternativa para grandes empresas que querem experimentar, sem ter o ônus de criar estruturas formais como laboratórios, startups incubadas e por aí afora.

Só funciona com responsabilidades bem definidas. Matrizes combinando pessoas, papéis e responsabilidades são imprescindíveis ao sucesso da indústria cinematográfica e podem muito bem ser aplicadas no mundo dos negócios. A própria criação das matrizes já é um ótimo exercício para analisar e questionar funções e competências, pois apostar em descrições genéricas e desatualizadas não costuma ser boa prática em situações novas. E, como todo Conselheiro e gestor bem sabem, é na hora das crises que todos precisam saber de imediato quem pode – e quem deve – fazer o que.

Fomenta a colaboração com senso de propósito. Sem profissionalismo, cooperação e motivação, não se faz cinema, e assim deve ser nas organizações. Se as empresas já se preocupam em identificar, contratar e reter os talentos, nos filmes isto é fundamental para fazer a diferença na crítica e na bilheteria. Mas atenção: todo mundo já ouviu falar daquelas produções em que quase tudo foi a perder porque o ator ou atriz principal divergiam do diretor executivo ou que entendiam sua participação como “o único” fator decisivo para o sucesso. É necessário que as equipes se completem com profissionalismo e que contribuam para o bom ambiente de trabalho. Um senso de propósito maior motiva as pessoas a buscarem melhores resultados.

Objetiva o retorno financeiro e o atendimento de expectativas de múltiplos interessados. E isto é muito bom, porque, ao invés de a empresa focar apenas e exclusivamente no próprio faturamento, deve se preocupar também com as expectativas de retorno de partes tão diversas, quanto parceiros comerciais, fornecedores, colaboradores e clientes. Nas produções cinematográficas, tão importantes quanto o diretor e os produtores, são os atores, os técnicos, os especialistas, os patrocinadores… Se as empresas fizerem o mesmo, atentando para os anseios de todas as partes envolvidas e interessadas, o resultado decididamente será melhor para todos. E aí é aquela história do todo se tornar maior que a soma das suas partes.

O modelo Hollywood viabiliza ainda outro benefício, com implicações fundamentais para a governança corporativa: os responsáveis precisam prover, de forma transparente e periódica, informações confiáveis sobre investimentos, gastos, prazos e entregas. Os indicadores devem ser acompanhados por todos os envolvidos, cada um com seu escopo, criando um ambiente extremamente salutar de monitoramento e avaliação de riscos e permitindo ações oportunas de contingenciamento.

Se o modelo é tão bom, adaptável e eficaz, por que não é usado com tanta frequência?

Para começo de conversa, cada filme é um novo começo, um novo planejamento, um novo jogo. E tudo que começa do zero dá mais trabalho, envolve mais riscos e requer boa vontade para sair da zona de conforto. Como as empresas procuram sempre otimizar os processos, reduzindo as lacunas e vulnerabilidades, e procurando introduzir as garantias para a boa repetibilidade e qualidade, a metáfora do filme parece mais atrapalhar do que ajudar.

Mas não é bem assim: é possível desafiar os aspectos circunstanciais dos processos organizacionais e focar mais nas questões estruturais, como objetivos, responsabilidades e monitoramento.

Como as empresas podem implementar o modelo Hollywood

O Poderoso Chefão continua ensinando muito sobre negociação, tomada de decisão, gestão de conflitos e relacionamento entre pessoas. Não é a toa que é tão usado nos cursos de Administração. Em termos de produção, pense em tudo que poderia dar errado (aliás, que deu e que se resolveu). Quarenta e sete anos após seu lançamento, a obra – considerada como metáfora das metáforas – continua influente e atual, feito incrível para um projeto desenvolvido em 77 dias (o cronograma original era de 83 dias).

A implementação do modelo Hollywood envolve quatro pontos importantes:

  • Noção do trabalho como valor – nada existe num filme – nem nas empresas – por acaso. As partes precisam reconhecer que o valor que geram é para o outro (seja um cliente externo ou interno) e que precisa fazer sentido para esse outro;
  • Autonomia para quem vai executar – é necessário compatibilizar o grau de responsabilidade com a expectativa de ação, estimulando a tomada de decisão consciente dentro de alçadas e com acompanhamento de metas;
  • Regras claras e bem conhecidas – para desafiar processos bem padronizados e muito amarrados, boas regras podem atuar como a “zona de segurança” institucional, estabelecendo o que pode e o que não pode, além de estimular comportamentos adequados e responsáveis;
  • Mecanismos de incentivos que valorizem todas as pessoas – não adianta premiar só os talentos e os protagonistas: todas as pessoas precisam sentir que seu trabalho é importante dentro do objetivo e raio de atuação. Assim como no cinema, é importante ter Oscars para atores, diretores, técnicos, escritores, músicos, além dos filmes, é claro.

Você acha que essa concepção pode ser aplicada em sua empresa? Como os Conselheiros podem desafiar os executivos e gestores a desenvolver projetos e empreendimentos com o modelo Hollywood? Vamos debater a utilização dessas e de outras abordagens criativas nos negócios.